Renato Portaluppi deixará o Grêmio? Ou será deixado?


***Texto publicado no blog impedimento.wordpress.com

I use to love her
20/04/2011

Acreditem, pares tricolores, eu nunca quis tanto estar errado. Mas creio que Renato Portaluppi não estará mais na casamata do Olímpico quando o minuano começar a desafiar os quero-queros. A previsão se baseia não em resultados, não na falta de soluções táticas, mas tão somente no semblante do técnico.
Renato voltou em uma situação em que ambos, treinador e clube, precisavam demais um do outro e tinham muito pouco a perder. Embora o Bahia fique na Bahia, ele ainda é o Bahia. Em 2010, Renato se viu excluído até mesmo da dança das cadeiras infindável dos clubes cariocas. Trocou Salvador pelo concreto gelado do Olímpico porque viu um Grêmio em baixa, mas bem melhor do que seus concorrentes ao rebaixamento, e um time onde poderia trabalhar ao menos por um semestre escoltado pelas próprias taças. Já o Grêmio, todos sabem, escolheu desesperadamente um nome antivaias e seja o que deus quiser.

Bem verdade, Renato jamais desembarcou em Porto Alegre por completo. O sujeito boa praça, de bem com a vida, não deixou Rio. Quem mora aqui é um profissional competente disposto a voltar para a vitrina. E é este meio Renato que se mostra cada vez mais sisudo, emburrado, enraivecido até, no dia a dia do Grêmio. Alguns acreditam que isso leva a uma autossabotagem inconsciente. Não vejo isso. De trás das declarações atravessadas, vejo em Renato um esforço absurdo para acertar, mas certo desespero pela falta de alternativas.

Depois da arrancada espetacular de 2010, Renato e Paulo Odone, que nunca se deram, foram constrangidos a assinar contrato um com o outro. O descompasso entre os dois é tanto que há um desconforto tanto de Renato em cobrar reforços, quanto de Odone em cobrar melhores atuações. Os dois simplesmente não têm intimidade para isso.

Renato não é burro. Um dia antes da Libertadores, o Grêmio perdeu seu melhor jogador. Meses depois, perdeu o parceiro dele de ataque. Nenhum foi reposto. Em 2008, Renato chegou à final com Thiago Silva, Gabriel, Thiago Neves, Conca e Washington, todos na ponta dos cascos. Ainda assim, perdeu. Portanto Renato fará o máximo, mas sabe que está no horizonte do Grêmio perder essa Libertadores. Poderá fazê-lo em um embate equilibrado contra um bom time, mas o tricolor não tem munição para mais do que isso. E outra coisa que Renato sabe é o que acontece com o ânimo de um time após uma desclassificação na Copa, e o quanto isso pode abater um grupo já limitado.

Também por isso, Renato encara o Gauchão com uma seriedade absurda. Motivo: quer conquistar o que pode enquanto pode. Se vencê-lo, soma uma tacinha, talvez conquistada em um Gre-Nal, a uma passagem em que já está no lucro. Já erguer essa Libertadores é algo tão fora do esquadro que projetar o que viria adiante é quase pensamento mágico.

Me pergunto se o Grêmio já trabalha um plano B para o Brasileirão caso Renato peça as contas após a Libertadores. E pouparei os leitores do Impedimento de quem vem à cabeça quando penso em um nome disponível no mercado, de bom trânsito com Odone, capaz de bons resultados imediatos com times tecnicamente limitados.

Não tenho dúvida de que Renato ama esse Grêmio que tirou ele de uma padaria de Bento Gonçalves e o catapultou de Tóquio a Copacabana. Tenho menos ainda de que o Grêmio ama ele de volta. Mas, viadagem à parte, amor nem sempre é o bastante para sustentar uma relação tanto tempo depois.

Às pedras,
Caue Fonseca.

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