Os brasileiros no Lollapalooza: uma questão de mercado

Responda rápido: qual banda ou artista de rock brasileiro consegue lotar um estádio de futebol? Ou pelo menos levar um público superior a dez mil pessoas em uma apresentação? Dificíl, né. Nos anos 80/90, com certeza a Legião Urbana era capaz de tal feito. Outros grupos já atingiram esta marca em tempos um pouco distantes, nas décadas passadas. Lembro de shows de Barão Vermelho, Paralamas do Sucesso, Capital Inicial, Skank, Raimundos, Mamonas Assassinas e Engenheiros do Hawaii com públicos superiores a 50, 60, 70 mil pessoas. Só para se ter uma ideia, na Argentina, os festivais Quilmes Rock e Pepsi Music são feitos basicamente com bandas locais e público superior a 15 mil castelhanos.


Colocados estes números, é mais do que lógico que a edição brasileira do festival Lollapalooza tenha reservado pouco espaço para os artistas nacionais. Mesmo com a polêmica envolvendo o cantor Lobão, que se recusou a participar do evento em 2012, por considerar desrespeitoso o tratamento dado aos tupiniquins, a edição deste ano manteve a mesma postura. Na verdade esta é uma questão mercadológica, de business. Não é comercialmente viável para os organizadores encher de atrações locais. Tenho certeza que 99% do público que foi ao festival não estava interessado nos nacionais que circularam pelos palcos do Jóquei da capital paulista. É nisso que quem produz o evento pensa na hora de montar o "line-up".


Claro que os artistas brasileiros merecem todo o respeito, estrutura legal e um público que esteja ali para assisti-los. Mas não vai ser no Lollapalooza ou em qualquer outro festival gringo que desembarque por aqui. Fica a sugestão da criação de um evento só com bandas nacionais, ao estilo dos grandes europeus e americanos. Criolo e Planet Hemp seriam ótimas "headliners". Aliás, a valorização verbalizada por Lobão deve começar pelos próprios músicos que, por vezes, aceitam condições inferiores para participar de alguns eventos. Até pouco tempo, aqui no Rio Grande do Sul, as atrações locais não recebiam nem cachê. Era tudo "na amizade" ou pelo "glamour" de participar de um famoso festival, que ocorre todo o ano no litoral gaúcho.


Eu prefiro (e tenho certeza que muita gente também) mil vezes assistir a um show do Criolo, do Planet Hemp, do Los Hermanos do que apresentações de bandas chatas e sem sal como The Hives, The Flaming Lips (esses caras fedem de tão ruins), Cake, A Perfect Circle, Kaiser Chiefs, etc. Só que não vai ser no Lollapalooza que os tupiniquins terão vez. Não adianta nem chorar com o Perry Farrell.  

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