Uma banda de rock se faz ao vivo

Certa vez Tom Jobim tinha um dilema. Daqueles que só alguém mais experiente poderia lhe ajudar a resolver. Estava entre a cruz e a espada. De um lado, queria tocar nos shows as músicas de seu novo disco. Do outro, estava o medo de uma suposta rejeição do público as cancões novas, o que é natural já que a maioria estava acostumada com o repertório maravilhoso e conhecido do maestro. Eis que num bate papo, em New York, com o mestre Frank Sinatra, Jobim teve a resposta para todas as preocupações: "No show, toque somente as canções clássicas, os hits, as que o público conhece. É para isso que eles estão lá". Depois ouvir o conselho de "The Voice", Tom nunca mais tocou ao vivo uma música que não fosse conhecida da platéia.


O Barão Vermelho em pouco ou nada lembra Sinatra ou Jobim. A maior banda de rock do Brasil chega, neste ano, a 30 anos de carreira e do lançamento de seu primeiro disco. O grupo, assim como a dupla já citada no parágrafo acima usa seus shows para desfilar clássicos e hits à uma platéia ensandecida. Não há uma música pouco conhecida no repertório do Barão. E mais do que isso, Roberto Frejat (voz e guitarra), Guto Goffi (bateria), Rodrigo Santos (baixo), Fernando Magalhães (guitarra), Peninha (percussão) e Maurício Barros (teclados) parecem nascidos e criados em cima do palco. Um show do Barão é um experiência única e libertadora para qualquer bom rockeiro que se preze.


Assisti aos caras novamente (pela terceira vez, se não me engano) no último final de semana aqui em Porto Alegre. Pra variar, um baita show em termos de qualidade e quantidade. Quase duas horas e meia do mais puro rock. Mesmo com um setlist tão variado e cheio de sucessos, o Barão se dá ao luxo de fazer algumas releituras, mas só de gente do mesmo calibre: Raul Seixas, Cazuza (carreira solo), Legião Urbana e, claro, o final apoteótico com a cover clássica da maior banda de todas, "Satisfaction", dos Rolling Stones. Frejat é o último guitar hero tupiniquim. Seu outro parceiro de guitarra é uma mistura de Keith Richards com Angus Young, cheio de caretas e língua pra fora. A gaiatice carioca de Peninha e Rodrigo Santos contagia. Guto Goffi é certeiro no comando da cozinha. E Maurício Barros se vira muito bem nos teclados, vocais e violão.


Uma banda de rock and roll se faz ao vivo. No palco, com platéia próxima e todos os clichês que um backstage possuí. O Barão sobreviveu a saída de seu cantor e poeta, Cazuza, e seguiu adiante com uma carreira sólida, grandes discos e milhares de horas de shows. Frejat teve a cara e a coragem de substituir seu amigo e parceiro musical, que optou por seguir carreira solo. Da pedra e do espinho, veio a flor de uma trajetória com muito mais altos do que baixos. Mesmo sem lançar um disco de inéditas há quase dez anos (o último foi Barão Vermelho, de 2004) o sexteto carioca segue arrastando milhares de pessoas aos seus concertos. Foi lá, em cima do palco, que o Barão Vermelho traçou e trilhou seu caminho para ser a mais importante banda do rock brasileiro.

** PS: O Pepsi On Stage é realmente um lugar muito ruim para assistir show. Além da superlotação, o som é bem prejudicado. Aquilo é um galpão improvisado, não uma casa de shows. Fora a estrutura externa, com poucos táxis, congestionamento e preço salgado para estacionar.

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