O conto do Cabrito

Essa semana, um conhecido jornalista aqui do Rio Grande do Sul caiu em uma espécie de pegadinha virtual. Na ânsia por divulgar antes e com exclusividade uma notícia, ele caiu no já batizado "conto do cabrito". Explico: no Twitter, torcedores do Grêmio criaram um jogador falso chamado Enrico Cabrito. Ele seria argentino ou uruguaio (não se sabe ao certo) e foi divulgado pelos espertinhos como nova contratação do tricolor gaúcho. O nobre jornalista não colocou o nome do rapaz no Google e saiu por aí tuitando, com ares de furo de reportagem, que o atleta fantasma estava sendo contratado. Foi, como dizem os mais novos, "trollado" por um bom pedaço do universo virtual.


Eis que um dia depois do ocorrido, de inúmeras homenagens ao jornalista com o qual eu trabalhei em duas emissoras diferentes, um conhecido narrador esportivo caiu na brincadeira. O homem, cuja melhor contribuição para o futebol foi inventar o bordão "feitoooo", leu a história do lateral Cabrito rapidamente no Twitter, um pouco antes de entrar no ar e resolveu dar a notícia "em segunda mão". E ainda ironizou que o nome do suposto novo contratado gremista era parecido com o seu. O melhor de tudo, é que a galera virtual não contente em "trollar", ainda faz vídeos e espalha por aí. O locutor, que raramente acerta o nome do jogador que está com a bola, foi o segundo a cair no conto do Cabrito.


Tudo me fez questionar o papel do jornalismo esportivo nos dias de hoje. Em qual editoria se reproduz uma informação como esta, sem apuração ou minimo de checagem e simplesmente não acontece nada? Difícil imaginar um setorista de polícia, um repórter de geral ou colunista de política embarcando num conto absurdo como esse. Pode have exceções, mas elas confirmam a regra. Jornalismo ainda é investigação, pesquisa, apuração, dúvida, questionamento. Infelizmente, a cobertura esportiva no Brasil (e especialmente aqui no Rio Grande do Sul) virou mera uma perfumaria. Ou pior, entretenimento barato e sem conteúdo. Não aprenderam os ensinamentos de Tadeu Schmidt, ou seja, fazer um texto legal no Esporte. Preferiram ficar com os "encantamentos" de Thiago Leifert.


Durante os campeonatos, o que vemos é apenas um bando de colunistas criando factóides, tentando brotar crises nos grandes clubes gaúchos, Grêmio e Internacional. Os repórteres de rádio, tv, jornal e internet fazem apenas o feijão com arroz sem tempero. Poucas são as matérias bem elaboradas, as pautas criativas e as perguntas com algum conteúdo em coletivas de dar sono. Quando tentam inovar, acabam caindo para o lado fanfarrão e piadista. Esporte e, principalmente, futebol é coisa séria. Ser jornalista esportivo não é só ficar no Twitter esperando a hora de dar uma notícia de uma suposta contratação, correndo o risco de dar uma bela barrigada, só para não levar um "furo" da concorrência. Eu fico triste que tenhamos atingido este nível, até porque comecei a fazer jornalismo justamente para trabalhar com esporte.

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