Será o fim da putaria no futebol??

"A bola tem um instinto clarividente e infalível que a faz encontrar e acompanhar o verdadeiro craque"
(Nelson Rodrigues)

O que será que o maior dramaturgo brasileiro, exímio cronista esportivo e observador da vida como ela é diria sobre o futebol nos dias de hoje? Nelson Rodrigues era um apaixonado por todos os aspectos do esporte bretão. Descrevia com poesia os acontecimentos de dentro de campo e com acidez as idiossincrasias fora das quatro linhas. Tenho certeza que ele seria uma voz forte contra o atual calendário do futebol brasileiro, os jogadores publicitários, os treinadores celebridades e as negociatas que envolvem direitos de transmissão de jogos, salários e transferências de jogadores.


A UEFA decidiu proibir que pessoas físicas ou fundos de investidores tenham participação nos direitos econômicos de jogadores. Seria o fim da putaria no futebol? A entidade, dirigida por Michel Platini, agora pressiona a FIFA para que a partir de maio esta medida seja adotada em todo o mundo. Mas mesmo que a FIFA não faça isso, a UEFA já avisou que não aceitará atletas nessas condições nas competições que organiza após três ou quatro anos de transição. Os europeus consideram esses investimentos um risco ao Fair Play Financeiro, regra que proíbe os clubes de gastarem mais do que arrecadam.


Palmas para a UEFA. Já estava na hora de alguém tomar uma postura contra este tipo de procedimento. As negociações no futebol estão cada vez mais complicadas e inflacionadas justamente por isso. O dirigente do clube começa a negociar com um empresário, daí vem outro e mais outro. Por fim aparece mais uma meia dúzia de atravessadores querendo ganhar uma beirada e aí a coisa emperra de vez. Os times, as instituições que são a base do esporte, ficam reféns desses aproveitadores. A torcida vive só de notícias que não se confirmam, falsas ilusões. Sonham com o craque e acordam com o perna de pau vestindo a camisa 10.

A atual janela de transferências foi um exemplo. Dirigentes de clubes tradicionais como Grêmio, São Paulo, Vasco, Internacional e Flamengo reclamaram publicamente dos detentores de diretos federativos e econômicos dos atletas. Na pressa de montar um bom time para temporada que se aproxima, os clubes mal conseguiram reforçar os elencos. Os altos valores envolvidos, muito por causa deste bolo dividido em várias fatias que virou o antigo "passe", intimidaram os grandes negócios. A medida da UEFA pode corrigir um erro histórico, cometido lá atrás quando se abriu espaço para este tipo de ação no futebol. Dizia-se que os jogadores eram reféns dos clubes. Pois hoje os clubes é que são reféns dos empresários e investidores dos atletas. Isso tem que ter fim.


Voltando ao mestre do jornalismo esportivo, Nelson Rodrigues dizia que não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos. Obviamente ele se referia ao jogo dentro das quatro linhas. No máximo, alguma intervenção intimidatória do caminho do hotel do time adversário até a entrada em campo do rival. O anjo pornográfico concordaria que lugar em empresário é no comércio, nas empreiteiras, nos supermercados, nos restaurantes e não comprando "pedaço" de jogador de futebol. Até ele, o gênio centenário da literatura e das palavras, iria querer o fim DESTA putaria.

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