A decadência de um artista

Roberto Carlos é um daqueles artistas brasileiros que você dificilmente irá encontrar alguém falando mal ou dizendo que ele está errado no que faz. O Rei tem uma legião de seguidores e protetores que o faz continuar se perpetuando no cenário da música brasileira por décadas, mesmo com uma produção irregular de álbuns e algumas cenas de gosto muito duvidoso. Por exemplo, os últimos especiais de final de ano na televisão. Tá certo que o formato já está desgastado desde os anos 1990, mas nos últimos tempos Vossa Majestade tem abusado das bizarrices. 



Alguns críticos exageram ao dizer que ele não produz nada de bom desde a Jovem Guarda. Calma lá. O grande disco talvez seja o do 1971, mas até o meio dos anos 1980, Roberto fez coisas boas e de inegável talento musical e poético. Antes disso, ficaram registados pelo menos três jóias da música brasileira (Os álbuns de 1965, 67 e 68). Álbuns fundamentais para quem quer entender e saber de música brasileira. Seu último sopro de genialidade veio, na minha modesta opinião, em 2001 com o Acústico MTV. Um formato meio que manjado, mas que ele soube como poucos dar novos ares e sabores as canções do repertório escolhido.



A parceria com Erasmo Carlos também nunca mais foi repetida como antigamente. Esta dupla era quase perfeita, complementares ao estilo Jagger & Richards ou Lennon & McCartney. O antigo Rei faz falta. A majestade perdeu o brilho. Virou o leão criado por cordeiros. Voltando aos especiais de final de ano, nos últimos tempos Roberto vem gastando sua credibilidade de grande artista ao convidar para dividir o palco figuras insossas como Paula Fernandes, Michel Teló e, pasmem, até o MC Léozinho. Nada mais decadente para um ídolo do que ter que usar artistas pop do momento com bengala para seus próprios espetáculos. Uma lástima.



É preciso saber viver e envelhecer no mundo da música. Há artistas que, com trajetória bem menos gloriosa que a de Roberto Carlos, estão envelhecendo com dignidade, boa produção frequente e sem apadrinhamentos para supostos "novos talentos". A alma do rei sempre foi livre para fazer o que quiser, sempre acompanhando dos melhores. De uns anos pra cá, ele parece preso a formatos impostos por sei lá quem. Ele poderia muito sem ser o general de uma revolução na música brasileira, mas não quer. Prefere queimar o filme ao lado do sucesso da última semana ao invés de explorar toda a potencialidade criativa que tem. Este cara é você, Roberto.

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