Tite, um louco de cara


No final do ano 2000 reinava a expectativa sobre quem seria o próximo técnico do Grêmio. O tricolor, treinado por Antônio Lopes, havia sido atropelado na final do Gauchão pelo humilde Caxias. Primeiro jogo na Serra foi um passeio do Carrossel da Uva, com vitória por 3x0. Na volta, nem o menino prodígio Ronaldinho Gaúcho conseguiu a virada. Aquele ano terminaria ainda com o clube da Azenha na décima posição do Brasileirão e treinado por Celso Roth. E justamente aquele que havia sido o algoz no campeonato regional estava prestes a ser o escolhido: Adenor Leonardo Bacchi, o Tite.


Passando o natal em Recife, eu acessava todo o dia a internet em busca de informações sobre o novo comandante gremista. Só fiquei tranquilo quando os sítios noticiosos confirmaram a contratação do treinador vindo do interior. Tite no Grêmio teve competência e falta de sorte. Montou um dos melhores times da história do clube e revolucionou o futebol brasileiro taticamente. Foi um dos poucos a utilizar com maestria o badalado esquema 3-5-2. Felipão, inclusive, se espelhou no modelo tático daquele Grêmio para armar o time campeão do mundial em 2002.


A última grande conquista tricolor foi comandada por Adenor, dentro do Morumbi, dando um baile no Corinthians. Aquele time jogada por música e tinha uma linha de frente mortal: Luiz Mário, Marcelinho Paraíba e Zinho. O azar de Tite no Olímpico foi que, muito antes de 2012, ele já poderia ter conquistados duas Libertadores, em 2002 (Quando o ladrão Daniel Gimenez "garfeou" o Grêmio contra o Olímpia) e 2003 (um frango de Danrlei no último minuto de jogo). Por fim, o desastrado episódio das "ovelhinhas" sepultou seu destino no estádio Olímpico e decretou sua saída.


O treinador rodou o Brasil e o mundo com alguns trabalhos consistentes e outros nem tanto. Passou por São Caetano, Atlético Mineiro, Palmeiras, Emirados Árabes, Internacional e Corinthians. No co-irmão montou uma máquina de fazer gols, ganhou um título sul americano e acabou demitido por culpa do ídolo-vedete D'Alessandro. Agora, em 2012, Tite atinge seu ápice. A consagração de um treinador visto que é o pura emoção em uma profissão cada vez mais mecânica. É campeão brasileiro, da Libertadores e do Mundo com o Timão. Vestido tal qual um exorcista, ele despachou os ingleses do Chelsea de volta para seu inferno londrino.


Tite é um homem de fé. Um iluminado. Um trabalhador. Um homem que olha no olho sem pestanejar e dá a devida atenção as coisas, mesmo em um restaurante ouvindo a história boba de um rapaz que lhe conta sobre como passou um final de ano, no nordeste brasileiro, aguardando notícias do futuro treinador do seu time do coração. Com ideias modernas sobre futebol, muito trabalho e envolvimento emocional ele é a prova viva de que para vencer é preciso unir essas coisas. Tite estará eternamente no coração dos tricolores que aplaudiram aquele time de 2001. Um louco de cara, como diria o gremista Vitor Ramil.

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