Reflexões sobre o Vale Cultura

A presidenta Dilma Rousseff sancionou o projeto que cria o Vale Cultura. Já no segundo semestre de 2013, trabalhadores com carteira assinada e que ganham até cinco salários mínimos terão disponíveis, através de um cartão magnético, R$ 50 para a aquisição de bens culturais. Pode quase tudo: livros, ingressos para espetáculos de teatro, dança e cinema, discos , DVDs ou qualquer outra atividade a gosto do freguês. Demorou um certo tempo até o projeto virar lei, pois me lembro de ter feito matéria para a Rádio Guaíba sobre o tema em 2010.


Na ocasião da reportagem, entrevistei um especialista em economia da cultura que saudou e criticou a iniciativa. Eu também tenho minhas ressalvas. Considero a ideia interessante, porém, nem tão cultural assim. Não me sai da cabeça a imagem do cidadão entrando numa loja qualquer e pedindo três CDs do Michel Teló e um DVD do Luan Santana. Ou mesmo indo comprar o ingresso mais barato do show da Paula Fernandes, bem lá atrás onde mau vai enxergar. E lá se foi o Vale Cultura do mês do trabalhador brasileiro. Preconceito? Talvez.

Não me lembro de algum outro país que tenha feito uma lei em que as pessoas tem acesso a Cultura. Talvez na França, nos Estados Unidos ou na Alemanha isso já não seja novidade, mas no "terceiro mundo" acho que é inédito. Porém, não significa que não tenha pontos a serem ajustados. Minha sugestão ao projeto, que aliás foi pouco discutido e debatido com a classe artística, é que o Governo deveria criar um selo para que produtos legitimamente culturais possam ser adquiridos. Livros, discos, filmes e ingressos já viriam com o carimbo e o cartão poderia ser usado para comprar estes itens.


Deixar ao gosto da população brasileira, que é uma das que menos lê em todo o mundo, me parece mais um Vale Entretenimento do que Cultura. Isso também pode criar um problema ideológico, pois levantaria a suspeita de que o selo poderia trazer alguma tendência do tipo "O Estado quer que você leia, ouça e assista ISSO". Nenhuma ideia é perfeita. Mas o fato de a partir do ano que vem um trabalhador comum poder usufruir de bens culturais é uma vitória de quem milita por um país melhor, com melhor educação e uma população mais consciente.

Por fim, o valor de R$ 50 pode ser considerado pouco. Porém, reflete o alto índice inflacionário que os bens de consumo atingiram. Não se compra praticamente nada hoje em dia com este valor. Antigamente dava um ingresso de cinema, um cd legal e um livro pocket. A própria industria deveria repensar o alto custo embutido no produto cultural, já que seu valor agregado na maioria da vezes não é correspondente ao preço.

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