O fim da fidelidade do consumidor

Dia desses eu estava atrás de um livro. Não é uma obra lá muito difícil de encontrar. Fui a uma livraria na Cidade Baixa e solicitei o dito cujo para vendedora:

- Tem o livro "Big Jato", do Xico Sá ??
- Só um pouquinho. Vou dar uma olhada.


A bela moça se afasta do consumidor ansioso e vai até o caixa em busca do pedido. Momentos de silêncio em frente ao computador...certamente ela pesquisava no computador o fato de se algum dia um livro do glorioso cronista havia aportado naquela loja. Uma pena. Tão bonita e nunca leu Xico Sá. Perdeu o encanto. Voltando ao tema central da história, eis que vem a resposta:

- Olha moço (suspira fundo a vendedora), não tem o livro. Mas dá para conseguir.
- Não, tudo bem. Vou dar mais uma volta. Obrigado.

Em outros tempos esta conversa terminaria com uma encomenda, um bate papo sobre os últimos lançamentos ou os clássicos reeditados e a combinação não verbal de um próximo encontro, na semana que vem, para uma nova rodada de troca de conhecimentos. Sou do tempo em que ia numa loja de discos ou livraria para bater papo com o vendedor, trocar ideias, experiências musicais e, no final das contas, sair ou não com uma sacolinha de novas aquisições. Na última edição da Feira do Livro de Porto Alegre me aconteceu um episódio parecido que compartilhei no Facebook e diversas pessoas se identificaram.


Este tempo infelizmente acabou. Dois são os motivos. Primeiro, a maneira como consumimos bens culturais (discos, livros, filmes) mudou radicalmente. O advento da internet estabeleceu uma nova relação entre apreciador e o artista. Muito mais virtual, já que praticamente tudo está na internet e de graça. Fui o primeiro na minha rua em Santa Maria-RS a ser notificado oficialmente pelo Napster e pelo FBI de que eu deveria excluir todas as mais de 500 músicas baixadas ilegalmente e que estavam escondidas no meu HD.

Em segundo lugar vem o fato de que os vendedores mudaram. Eles não conhecem mais os fregueses e suas idiossincrasias. Tudo é muito mecânico. O cliente entra, pede, paga e vai embora. Os crescimento das mega livrarias também é um fator de risco. Me resta buscar os amigos para este tipo de conversa. A tática agora é pegar as obras que surgem na mesa de bar e anotar no primeiro guardanapo que estiver disponível, entre copos de cerveja.

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