Lembranças de natal

Durante muito tempo não gostei de Natal. Sempre achei uma data comercial ao extremo e com pouco, ou quase nada, de nobre. Minhas lembranças desta época do ano, porém, são engraçadas. Continuo não gostando muito, principalmente pelo fato de ter que comprar presentes já que isto deveria ser um gesto espontâneo e não obrigatório. Aquela ilusão toda do "espírito natalino" não funciona comigo. Sim, pode me chamar insensível.

Tenho duas lembranças clássicas de natal. A primeira é a da minha avó lá em Palmeira das Missões. Quando viva, ela sempre convidava eu e minha mãe para passar as festividades por lá. Era um período legal para reencontrar primos, tios e tias que não se tinha a oportunidade durante o ano. Me recordo da dona Iracema passando o dia inteiro na cozinha. De manhã já começava a função toda. Era comida para uma batalhão. Tinha peru, chester, lombinho, tender, arroz, salada (só pra constar mesmo), doces, salgados, tortas, bolos, etc, etc. Por fim, a pobre da velha terminava a noite atônita, sem conseguir abrir os presentes, sentanda numa cadeira de balanço e com um copo de cerveja na mão.


A segunda lembrança é uma história que eu sempre conto com ar de tristeza, mas na verdade é pra soar engraçada. Revelo até com um certo ar de superioridade esta época gloriosa. Muitas das minhas noites de natal, entre a infância e a adolescência, foram praticamente sem ceia ou com jantar bem depois da meia noite. Tudo porque minha mãe, exemplo de mulher e pessoa, agenciava papai noel. Isso mesmo. O até o bom velhinho tinha uma hábil empresária e isso fazia toda diferença na hora de negociar com os chefes de família doidos por ver seus filhotes com sorriso até as orelhas. Tudo era muito bem planejado e organizado, como convém a uma virginiana.

O roteiro era já estava agendado. O itinerário, feito todo ele em um Chevette azul marinho, devidamente cronometrado. Chegávamos, eu, minha mãe e o Papai Noel na residência marcada. O velho barbudo ia para a sala fazer seu pequeno show, animar as crianças e distribuir os presentes. O patriarca nos levava, yo y la madre, para a cozinha para acertar o pagamento. Dinheiro vivo. Nada de cheque à vista, pré-datado, voador ou a perder de vista. O meu natal não permitia essas benevolências. Trinta minutos era o tempo da ilusão. Depois, era hora de dar tchau e ir para a próxima residência, atravessando a cidade de Santa Maria noite à dentro. 


Por fim, a ceia era algo bem mais simples e tranquilo do que a aquela comilança toda lá da casa da minha Vó. O fato de não ter a ilusão do natal, da vinda do Papai Noel e esses sentimentalismos todos não fez de mim um pessoa menos sensível ou ligado a emoções. Apenas me fez diferente, um pouco mais realista talvez. E, sinceramente, sinto falta daquelas noites no Chevette passeando por aí, visitando casas de estranhos ao lado do bom velhinho do Polo Norte e, de quebra, vendo como se ganha dinheiro. Essas lembranças são as que ficam. Feliz Natal!!

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