Uma eterna festa junina

Dizem que as ruas de uma cidade apontam tendências valiosas em todos os sentidos: música, comportamento e, principalmente, moda. Fazia um tempo que eu via notando uma certa invasão xadrez pelas calçadas mal conservadas de Porto Alegre. Ontem, resolvi deixar o carro em casa (culpa da tal balada segura. Eu é que não quero ser pego borracho y guiando) e dar uma volta de noite a pé aqui da Santana até a Cidade Baixa. Bingo! Foi o que eu precisava para comprovar a invasão do vestuário quadriculado. A impressão que eu fiquei foi de que a cada 10 pessoas, nove usavam algum artefato xadrez. Não apenas as já famosas camisas (popularizadas por aqueles cantores sertanejos universitários cujos nomes não citarei), mas blusões, calças, saias, vestidos e, imagino eu, calcinhas, sutiens e cuecas. Tudo é xadrez. Me sinto em uma eterna festa junina.

Ao longo dos tempos já estivemos diante de todo o tipo de repetições coletivas quando o assunto é vestuário. Não sei se o meu olhar ficou mais aguçado ou eu andava bem desligado, mas a impressão é que não existe mais nada para vender nas lojas e que no corpo das pessoas só há espaço para o xadrez. Mais ou menos como na época em todas as garotas se vestiam de preto para sair e ficavam iguais a integrantes de bandas de rock gótico, na Londres dos anos 80. Coitada da minha camisa xadrez (que eu comprei faz uns três anos), tão cedo eu não tiro ela do guarda roupa. Pra que? Ela será só mais uma na multidão, no mar, no oceano xadrez das ruas esburacadas da capital gaúcha. Deixa a moda passar. Ela sempre passa e sempre volta, e volta e passa, mas sempre volta.


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