O ato de cozinhar

Não faz muito tempo a cozinha era o lugar menos habitado da minha casa. Eu mal sabia esquentar água na chaleira e fritar um ovo era um mistério tão grande quanto o sentido da vida. Fazer arroz, então, era uma verdeira aventura e que poderia causar sérios danos a minha saúde (física e mental). Nem aquele famoso miozinho, no auge da fome, saia das minhas (pouco usadas) panelas. Até que houve um momento em que tudo mudou, ou quase tudo.

Certo dia, cansada das minhas desculpas, uma namorada me intimou: "ou cozinha pra mim ou acabou a relação". Claro que não foram estas as exatas palavras da bela moça, mas ela já vinha dando indiretas semanais e que passaram a ser diárias em certo tempo. Ver um homem na cozinha preparando um prato para ela era algo levado muito a sério e o namorado, meu status na época, que não fizesse isso poderia ser severamente punido (e não de um jeito legal).

Pois bem, topei o desafio. Era um fim de semana e resolvi preparar uma massa e caprichar no molho ao funghi. A experiência não poderia ter sido melhor. Ela, aparentemente, gostou da comida e eu mais ainda daquele ritual misterioso de combinar ingredientes e transformá-los em sabores. Cozinhei outras vezes para ela e fui aperfeiçoando um pouco aqui e outro ali. Sempre seguindo os mandamentos do meu guru Alex Atala: "não corra, não fale e não pare".

Claro que eu não sou nenhum Atala e por isso me permito usar o ato de cozinhar como uma terapia e não uma obrigação. Um momento em que coloco as mãos em algo em busca de uma alquimia que vai levar ao prato a ser servido. Como bom iniciante arrisco com coisas simples, mas saborosas. O que começou de maneira nervosa para agradar alguem que eu amava muito hoje virou um delicioso hobby, uma paixão. Nada melhor do que colocar uma boa música, servir uma taça de vinho e conversar com alguém bacana enquanto se cozinha. Sozinho, o processo todo revela uma incrível capacidade de deixar no lado de fora da cozinha os pensamentos que nos atordoam.

Agora só falta agora cozinhar pra mais de duas pessoas. Este é o próximo desafio e ele está por vir.

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